segunda-feira, 26 de julho de 2010

TECNOLOGIA EDUCATIVA: ASSUMINDO A CONTEMPORANEIDADE NA PRÁXIS PEDAGÓGICA

Resumo:

Esse ensaio trata das concepções atuais de realidade de uma sociedade baseada numa cultura global, onde, distâncias físicas, cognitivas e virtuais se diminuem dia a dia, hora a hora. A mutação social é constante, a dinamicidade é, até certo ponto, cruel, pois torna ciente a todos os atores do contexto atual, de que estamos muito longe de uma democracia de direito para todos. Um ponto de partida poderia ser a Escola fundamentada em uma educação baseada num currículo realista e adequado às necessidades de uma humanidade focada numa sociedade em permanente transmutação de conhecimentos e saberes. Um currículo estruturado nas necessidades de uma população carente de recursos sociais, intelectuais e tecnológicos. Precisamos ter a consciência de que a evolução técnica se acelerou deixando para trás a evolução moral e social e, como consequência, surge o desnivelamento entre tecnologia e social, entre direito democrático e práticas democráticas. Um dos protagonistas desta “distância” é o próprio Estado que, frequentemente aplica a prática da descontinuidade de políticas sociais deixando a sociedade refém do assistencialismo dependente, refletindo assim na Educação e consequentemente na sociedade.

Numa concepção diferenciada, proponho a problematização e análise dos estudos do currículo atual e a adaptação do mesmo na escola com forma de restabelecer uma nova educação ambientada no paradigma da globalização e análise da evolução tecnológica e a sua aplicação na sociedade global.

Palavras-chave: tecnologia, educação, tecnologia educativa, currículos, formação de professores


Abstract:

This essay deals the current reality conceptions of a society based on a global culture where physical and cognitive distances shorten every day, and every hour. Social change is frequent, and dynamicity is somewhat tough, because makes aware to every actor of the current context, that we are very far from achieving what can be called a "democracy of rights for everyone". A starting point could be the school, fundamented in an education based on realistic curriculum that fits the needs of the humanity focused on a society in permanent transmutation of knowledge and lore. A curriculum structured on the needs of a population lacking social, intelectual and technological resources. We need to be conscious that the technical evolution grew despite moral and social evolution, hence the abyss between technology and society, between democratic right and democratic practices. One of the leading figures of this abyss is the State itself, which oftenly discontinue social practices, thus leaving the society to the mercy of the dependant welfarism, therefore impacting in Education and consequently in society.

On a different conception, I propose the problematization and the analysis of the studies of the current curriculum and the adaptation of it in the school, as a manner to establish a new education set on the globalization paradigm and on the analysis of the technological evolution and its application on the global society.

Keywords: technology, education, educational technology, curriculum, teacher training


A “ditadura” da tecnologia

Na evolução das tecnologias, a sociedade foi envolvida de forma rápida e não tão eficiente e até certo ponto com uma dose de deslumbramento, pois se criou uma dicotomia nas relações sociais, afetivas e cognitivas. Pensar em uma sociedade que muda tão rápido, com valores diversos e ao mesmo tempo específicos, cria um sentimento de novas adaptações, novas elaborações e associações para uma nova estrutura social como um todo. O problema é: adequar uma rede de conhecimento, saberes e competências a um mundo que se encontra tão “curto” nas distâncias da informação e tão globalizados nas ações.

Emergimos de uma prática taylorista/fordista que acelerou o crescimento capitalista no pós guerra. Esse mesmo crescimento capitalista deu passagem para a democracia e, consequentemente a democracia de direito que, assegura os mesmos direitos a todos os seres da sociedade, pelo menos na teoria. Na prática, estamos muito aquém da solução de todas as diferenças geradas pelo capitalismo.

No século XXI a tecnologia é imperativa na vida humana, ou seja, há muito tempo é uma extensão de nossos dias, de nossas ações e de nossa formação, formando uma sociedade “neotecnicista”.

Se pensarmos na evolução da tecnologia/informática, nos remeteremos ao tempo da II Guerra Mundial, Douglas Engelbart, um operador de radar, porém visionário, não se conformando com computadores tão gigantes e ao mesmo tempo complexos no operar, pensou em uma maneira de criar um dispositivo totalmente interativo e intuitivo – o mouse, para aproximar o homem da máquina, mesmo sendo essa última, sua própria criação. Se avançarmos mais um pouco no tempo, encontraremos Steve Jobs e Steve Wozniak, mágicos visionários das tecnologias, sempre à frente de seu tempo e num mundo paralelo às políticas e seus conflitos, desenvolveram a técnica por excelência: um sistema amigável, que permitisse ao homem uma total interação com a máquina. Com seus objetivos alcançados, a maior parte do desenvolvimento das tecnologias criadas e estruturadas para conflitos políticos chegaram à sociedade, ao mundo e a humanidade. As tecnologias foram responsáveis pelo crescimento do capitalismo e vice-versa, pois se estabeleceu a globalização, onde um planeta inteiro e suas culturas e civilizações são uma só lutando para não serem “devoradas” por um senso comum, mas tomando conhecimento da importância do transitar entre as inúmeras diversidades e identidades que compõem a humanidade.

O que desejo dizer com esse breve e resumido compêndio da história da tecnologia? O homem, a humanidade não assimilou a velocidade da evolução de sua própria espécie. Segue numa corrida para buscar novos desafios e recursos facilitadores de sua própria existência, esquecendo-se de adequá-las aos procedimentos básicos e necessários de sua vida e com acesso garantido a todos por direito. Não há ainda uma política pública realmente eficiente no que diz respeito a inclusão de todos os seres nessa sociedade de conhecimento veloz, pois perde-se identidades em nome de uma cultura global. O acesso ao conhecimento de fato se limita ao básico e, a inclusão gera uma “casta” dos excluídos da inclusão. Contraria a Declaração Internacional de Montreal sobre inclusão, que se refere a todos os âmbitos sociais, econômicos, de conhecimento, acessibilidade e respeito mútuo:

O acesso igualitário a todos os espaços da vida é um pré-requisito para os direitos humanos universais e liberdades fundamentais das pessoas. O esforço rumo a uma sociedade inclusiva para todos é a essência do desenvolvimento social sustentável. A comunidade internacional, sob a liderança das Nações Unidas, reconheceu a necessidade de garantias adicionais de acesso para certos grupos. As declarações intergovernamentais levantaram a voz internacional para juntar, em parceria, governos, trabalhadores e sociedade civil a fim de desenvolverem políticas e práticas inclusivas. O Congresso Internacional "Sociedade Inclusiva" convocado pelo Conselho Canadense de Reabilitação e Trabalho apela aos governos, empregadores e trabalhadores bem como à sociedade civil para que se comprometam com, e desenvolvam, o desenho inclusivo em todos os ambientes, produtos e serviços.

A não gestão por parte do Estado e sociedade possui ainda uma visão territorial que se perde na descentralização de órgãos incomunicáveis, obsoletos e adeptos da descontinuidade. Governar uma nova humanidade requer, acima de tudo, a integração entre muitas identidades que formam um coletivo, necessita de novos paradigmas que pelo menos entrem em frequência com a mutação do conhecimento. Pierre Lévy (1994), se refere:

Como governar em situação de desterritorialização acelerada? A invenção de novos modos de regulação política surge como uma das tarefas que se impõem com urgência à humanidade. Moralmente desejável quando caminha no sentido de um aprofundamento da democracia, essa invenção envolve a saúde pública ao condicionar a resolução dos problemas graves e complexos de nosso tempo.

A falta de estrutura política de governos que ficaram imersos durante tantos anos em conflitos “virtuais” ou não. As corridas dos armamentos tendo como a tecnologia de ponta a seu serviço, me fez abrir os olhos e visualizar um horizonte facilitador, porém com acesso somente a elite. Não posso deixar de afirmar também que a globalização econômica supera a democracia, abandona o humanismo e, leis nacionais ou internacionais nada podem com tal poder da informação, ampliando mais ainda o abismo existente entre as diferenças econômicas e consequentemente sociais.

Não vivemos mais sem a tecnologia. Diversos setores da nossa sociedade, incluindo o Estado, se abastecem da dependência das facilidades e agilidades da tecnologia. Nunca antes o homem foi tão ativo e proativo na construção de seu conhecimento.

Mesmo nas agruras, a coletividade emerge, o acesso a diversas ferramentas gratuitas surge como um novo “polarizador” de cultura cibernética e cooperativa. Se levarmos em conta um "simples" sistema WIKI[1], vamos ter a real noção do que está se transformando a sociedade digital. Um sistema colaborativo que prima pela coletividade é um exemplo nato de que a democracia do conhecimento e por direito está sendo implementada, mesmo que de forma letárgica e inconsciente ampliando ainda mais a dicotomia da informação e do conhecimento.

Coletividade e colaboração! A Wikipedia[2], o mais ilustre exemplo é uma fonte inesgotável de conhecimento dinâmico e em constante mutação e ampliação. Primo (2003) se posiciona:

[...]o sistema Wiki veio permitir não apenas a reunião de dados, mas a própria geração de novos conhecimentos de forma compartilhada entre diferentes sujeitos, a qualquer tempo e de qualquer lugar. Ou seja, não se trata apenas de uma ferramenta de indexação e formatação, mas a criação de um espaço de debate e sintetização de textos. Ou seja, o papel do interagente não é apenas de um bibliotecário, mas verdadeiramente de um autor, no sentido mais estrito da palavra. Nesse sentido, a Wikipédia é mais do que a oferta de informações. É também um convite ao trabalho social de construção do conhecimento.

Nunca antes a história foi construída pela coletividade. A construção da história, transcendeu o próprio conceito de história, o homem acessa e intervém no presente, mudando o futuro e a contemporaneidade de forma rápida e ativa.

Coletividade, palavra que determina uma linha infinita de conhecimentos. Tal como observa Pierre Lévy(1994).

A inteligência coletiva visa menos domínio de si por intermédio das comunidades humanas que a um abandono essencial que diz respeito à idéia de identidade, aos mecanismos de dominação e de desencadeamento dos conflitos, ao desbloqueio de uma comunicação confiscada, a voltar a trocar entre si pensamentos isolados.

O sujeito hoje, tem em mãos a possibilidade de compartilhar seus anseios, sua dúvidas e opiniões através de blogs e/ou sites de relacionamentos. A produção textual nunca foi tão volumosa, mesmo que as vezes, carente de qualidade, mas produtiva, pois cada ser torna-se autor de sua própria biografia, alterando a imagem de si mesmo, brincando com sua auto estima, seus desejos, objetivos, cria novos laços sociais e "edita" as suas concepções de vida. Compartilha, colabora e intervém em produções visuais e audiovisuais, utilizando-se de ferramentas gratuitas para a publicação de si mesmo. Torna-se celebridade de seu contexto.

Construindo um novo paradigma a partir de um modelo dinâmico

A Educação é para mim, a única fonte e estrutura capaz de mudar o que já está tão enraizado se contrapondo a realidade atual. É o ponto de partida que, querendo ou não ainda alcança a todos, em diversos níveis, é claro, mas está presente na vida do homem, com maior ou menor importância, com maior ou menor abrangência.

Educação faz parte do convívio social e parte da humanidade. Estabelecer novos paradigmas na aplicação envolve estabelecer parâmetros do que é realmente essencial para o homem inserido no contexto atual do mundo em que vivemos. Vejo como um dos caminhos a adequação das estruturas curriculares, pois as mudanças são aplicadas a todas as áreas e níveis da educação, precisando com urgência se adaptar a uma realidade em constante movimento e dinamismo. Além da “edição curricular”, uma nova perspectiva de formação de educadores, uma prática pedagógica ambientada ao digital.

Acácia Zeneida Kuenzer, se posiciona sobre o assunto, afirmando que:

A globalização da economia e a reestruturação produtiva se deram a partir da derrubada das fronteiras também no campo da ciência, construindo áreas transdisciplinares em face da problemática do mundo contemporâneo; este mesmo tratamento precisará ser dado aos conteúdos, derrubando-se as clássicas divisões entre as disciplinas, para compor novos arranjos de conteúdos das várias áreas de conhecimento, articulados por eixos temáticos definidos pela práxis social e pelas peculiaridades de cada processo produtivo na formação profissional.

Analisar o impacto das tecnologias na educação é rever e repensar toda uma estrutura curricular aplicada aos métodos de ensino-aprendizagem. Além da análise é necessário, imperativamente ampliar o horizonte de cada educador e, consequenemente do estado que gerencia todo um escopo educacional através de suas legislações e competências não aplicadas a realidade. É muito mais do que importante reconhecer uma transformação cultural das tecnologias no que diz respeito a todo e qualquer processo educacional atual não só no Brasil, mas como no planeta inteiro, pois a humanidade é, mais do que nunca um todo. O reconhecimento desta transformação cultural e social nos remete a outros processos completamente diferenciados dos que ainda são utilizados como metodologias de educação.

Currículos equivalentes a currículos interativos/digitais – transformadores

Assumir o papel das tecnologias na educação é olhar para o ambiente global sem deixarmos de manter as convicções localizadas na realidade da escola, é poder adaptar novas informações e conhecimentos ao conteúdo disponibilizado e, atualmente lutando para ser compartilhado dentro das salas de aula. Adaptar o mais dinamicamente possível as bases contemporâneas do mundo globalizado é, sem sombra de dúvida, reconsiderar toda uma tradição fortemente enraizada no contexto escolar. A busca de novos currículos que se amoldem aos contextos históricos-crítico da humanidade e, ao mesmo tempo satisfaçam a demanda do conhecimento coletivo sempre emergente é uma árdua tarefa. Existe uma crise na identidade social, esta crise se amplia do estado para o educador e reflete no educando que perde o interesse no conteúdo ministrado em sala de aula, pois existe uma revolução científica e tecnológica, na qual ele, o educando tem o acesso, mas não vê ocorrer em sua formação básica.

O estudo de novos currículos, repito, se fará necessário para adequar o contexto do mundo educacional que precisa agregar para si o impacto da tecnologia nos âmbitos sociais, culturais e das relações que adquiriram uma nova perspectiva de “inter-pessoal”. Todas estas características de vida atual interferem diretamente na atitude do indivíduo e brotam com um novo sentido de relação ensino-aprendizagem, muito mais dinâmico, fluido e rápido. Tudo o que envolve a prática de educar é um processo, portanto, o currículo também se desenvolve por meio de um processo de ligação íntima entre a teoria e a prática. De acordo com Libâneo (2004) p. 168:

[...]o currículo define o que ensinar, o para que ensinar, o como ensinar e as formas de avaliação, em estreita colaboração com a didática.

Ou ainda, como se refere Sacristán (1989) p. 22:

O currículo é a ligação entre a cultura e a sociedade exterior à escola e à educação; entre o conhecimento e cultura herdados e a aprendizagem dos alunos; entre a teoria (idéias, suposições e aspirações) e a prática possível, dadas determinadas condições.

Posso ainda me manifestar quanto ao estudo do currículo nos últimos anos, principalmente nas décadas de 60-70, onde, de acordo com Libâneo(2004), existem vários tipos de currículos: formal, real e oculto.

· Currículo formal: é o currículo expresso pelas diretrizes e legislação, ou seja, é o componente oficial de conteúdos relacionados que deverão compor uma disciplina;

· Currículo real: é a execução de um planejamento, o que realmente ocorre em sala de aula, mesmo que hajam mudanças; é o currículo que emerge da teoria para a prática;

· Currículo oculto: é o currículo das vivências e experiências tanto do educador quanto dos educandos, ou seja, é composto por todas as experiências compartilhadas em sala de aula. Sofre transformações constantes e é o que mais recebe influências da cultura local/global;

Mesmo se levarmos em conta a fundamentação acima citada, penso que o currículo sempre ou quase reflete a filosofia e cultura de seu tempo. Me refiro a quase, pois na prática contemporânea a escola está engessada e, a formação de professores, incluindo a continuada mergulha cada vez mais em vícios estabelecidos e enraizados por teorias acadêmicas ultrapassadas e preconceituosas. O que é necessário mudar é o ponto de vista do estado em relação à Educação, investir na pesquisa tecno/científica para dar início a mudança das bases curriculares. Ver a Educação como base para uma sociedade do conhecimento.

Gosto particularmente do termo usado por Clara Pereira Coutinho[3]; Tecnologia Educativa – TE, onde a autora disserta sobre a importância da construção de currículos que se “cruzam” com a Tecnologia Educativa. Se refere ainda como a tecnologia como braço “operacional” da Educação. A análise da história curricular ocidental com a evolução das tecnologias é muito importante que se tome consciência do que é preciso ser estudado. A autora transita sobre caminhos emancipatórios e autônomos onde afirma que o professor é um coautor dos processos curriculares, trabalhando em equipes.

[...] neste novo contexto, o currículo adquire um caráter interdisciplinar conducente à remoção das barreiras disciplinares e constrói-se a partir da práxis, numa interdependência entre todos os atores sociais em que se reconhece, quer aos professores, quer aos alunos.” Coutinho(2006)

Eu ainda penso no currículo aliado a TE como uma nova proposta de recurso pedagógico, não como passageiro, ou mera ferramenta para alcançar os objetivos traçados em um currículo formal, mas sim como objeto de aprendizagem construído em processo mutável de acordo com a realidade contemporânea e instaurado definitivamente na Escola, dentro da sala de aula. Educação é comunicação e, para tal, hoje é necessário o aliar estudado e analisado das tecnologias, o uso de ferramentas simples, corretas e gratuitas já arrefecem superficialmente a necessidade de mudança. Já estabelecem uma nova relação com o saber, trazendo consigo o interesse do educando, pois se trata de uma sociedade do conhecimento sendo construída e emergindo informações para criar novos indivíduos. Por isso mesmo, mais importante do que incorporar pura e simplesmente a mídia e as novas tecnologias nas aulas é fundamental que o educador pense que tipo de cidadão que queremos e qual a formação cultural que a escolha vai resultar. (Coutinho, 2006).

Por meio do estudo e reformulação de um currículo é possível repensar no retomar da influência da Escola nas bases sociais e nas identidades culturais locais e em nível de aldeia global, é possível também diminuir as distâncias da inclusão digital e, acima de tudo, tomar consciência de que a “tecnologia age sobre a informação” (Castells, 2000, p.78) e vice versa.

Todo o caminho de adaptação da Escola às tendências contemporâneas passa obrigatoriamente por dois estágios pontuais: formação e formação continuada de professores e desenvolvimento de currículos adaptados ao contemporâneo com raiz na emancipação e autonomia suficiente para novas construções. Sem formação os professores não estão em condições de desenvolver práticas pedagógicas de qualidade com bases nas tecnologias (Coutinho, 2006).

Considerações Finais

Educação é comunicação em todos os sentidos da relação do conhecimento – bi-lateral, bi-direcional, estabelece novos paradigmas sociais e de comportamento de toda a humanidade. Se, por um lado vejo a família com acesso as tecnologias, crianças na mais tenra idade entrando em contato com o computador, praticamente se criando sobre os padrões e formas de operação da informática e tecnologia, vejo o contraponto dentro de cada sala de aula, onde somente o tradicional é aplicado e, muito pouco. Em escolas privadas, a informática é usada somente como um recurso para pesquisas orientadas também de forma tradicional. Se o paradigma mudou, a base precisa ser transformada e reconstruída, pois somente o tradicional não cabe mais nos dias de hoje. O educador necessita de outras fontes através de sua formação, seja continuada ou inicial, pois será um fator que condicionará um uso pedagógico adequado. Coutinho (2006) se posiciona:

· uma mudança de atitudes no sentido de os diferentes “atores” do processo educativo aprendem a compartilhar espaços comuns como a biblioteca, a midiateca, a sala de informática, ou o centro de recursos;

· o desenvolvimento de praticas caracterizadas pela coordenação, intercâmbio e preparação conjunta(team-teaching) de experiências e projetos pedagógicos inovadores que perseguem a integração curricular pela partilha de espaços e tecnologias;

· o assumir, por parte da escola, na filosofia do seu projeto educativo, a necessidade de introduzir (e potenciar) novos modos de expressão individuais e coletivos;

Proponho uma aproximação da sociedade do conhecimento para as práticas pedagógicas, para o dia a dia da sala de aula. O ambiente escolar precisa, com urgência transitar mais no Digital, na Rede, nas Informações e transformá-las em construção de conhecimento. A Escola, os educadores precisam se confrontar com a realidade de que existe o acesso autônomo do educando ao conhecimento, esse busca suas informações relacionadas sempre ao seu ponto de interesse, aprende e assimila os principais pontos vitais de sua pesquisa. Se a Escola souber canalizar esses novos hábitos, criará um ambiente propício para a construção desse conhecimento, diminuindo a distância do que se aplica na sala de aula e o que realmente acontece no mundo. Ao aproximar o educando do processo pedagógico, isto faz com que o mesmo seja um coautor de seu próprio processo cognitivo. Bases construtivistas? Provavelmente. Pensar que o conhecimento não é absoluto e muito menos definitivo é determinar que o mesmo é moldado, adaptado e estruturado nas bases desta nova práxis pedagógica.

Particularmente, me aproprio de uma frase definitiva de Pierre Lévy quando se refere ao nomadismo desta época, em seu livro A Inteligência Coletiva (1994). “Caso se tratasse apenas de passar de uma cultura a outra, ainda teríamos exemplos, referencias históricas. Mas passamos de uma humanidade a outra; outra humanidade que não apenas permanece obscura, indeterminada, mas que até mesmo nos recusamos a interrogar, que ainda não aceitamos examinar.”


Bibliografia:

CASTELLS, Manuel (2000). A sociedade em rede. Vol. 1. São Paulo, Paz e Terra. 11ª Edição

COUTINHO, Clara P. Tecnologia Educativa e Currículo: caminhos que se cruzam ou se bifurcam? - VII COLÓQUIO SOBRE QUESTÕES CURRICULARES - (III Colóquio Luso-Brasileiro) Globalização e (des)igualdades: os desafios curriculares, Universidade do Minho (Braga) – Portugal - 9, 10 e 11 de Fevereiro de 2006, disponível online: <http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/6468/1/Texto%20Col%20QC%202006.pdf>

DECLARAÇÃO INTERNACIONAL DE MONTREAL SOBRE INCLUSÃO, aprovada em 5 de junho de 2001 pelo Congresso Internacional " Sociedade Inclusiva" , realizado em Montreal, Quebec, Canadá, disponível online: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dec_inclu.pdf>

GIMENO SACRISTÁN, J. Currículo e diversidade cultural. In: SILVA, Tomaz T.; MOREIRA, Antônio F. (Orgs.) Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis: Vozes, 1995

KUENZER, Acácia Zeneida, As Mudanças no Mundo do Trabalho e a Educação: Novos Desafios para a Gestão. Gestão Democrática da Educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo : Cortez, 2006

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na era da informática. Ed 34. Rio de Janeiro, 1993

LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2000

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5ed. Revista Ampliada – Goiânia: Editora Alternativa, 2004.

PRIMO, A. F. T. e RECUERO, Raquel., Hipertexto cooperativo: uma análise da escrita coletiva a partir dos Blogs e da Wikipédia. Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 22 • dezembro 2003 • quadrimestral



[1] O termo Wiki foi criado por Ward Cunningham - termo original:WikiWikiWeb, criador do sistema lançado em 1995, e significa “rápido” em haviano (wiki wiki). Cunningham viria, mais tarde, abrir um Wiki público (http://www.c2.com/cgi/wiki) para a discussão de questões de engenharia e metodologia de software.

[2] Janeiro de 2001, Larry Sanger e Jimmy Wales lançam a Wikipédia (http://www.wikipedia.org), que se tornaria o maior projeto Wiki até hoje.

[3] Professora Dra. Auxiliar do Departamento de Currículo e Tecnologia Educativa

Instituto de Educação e Psicologia

Universidade do Minho - Portugal



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Trabalho da disciplina de Planejamento, Educação, Cultura e Ação Pública, do programa de Mestrado em Educação, turma do 01/2010, do Centro Universitário La Salle sob a orientação dos Professores: Prof. Dr. Luiz Gonzaga Silva Adolfo e Profª. Drª. Sandra Vidal Nogueira

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