segunda-feira, 26 de julho de 2010

TIC – TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: CONTEMPORANEIDADE EDUCACIONAL

MARIA CRISTINA JUNG
PATRÍCIA PENHA KASPER


RESUMO

O texto abaixo apresenta aos leitores a realização de algumas reflexões sobre os avanços das tecnologias da informação e da comunicação e os reflexos que estas causam na educação. Os remete a analisar a formação inicial dos professores e a necessidades que as transformações da sociedade globalizada contemporânea passam a urgir em formações continuadas. Também traz alguns aspectos de movimentos das políticas públicas para EaD, bem como, ferramentas do mundo virtual como aliadas a reformulação da educação.

Palavras - chave: tecnologias da informação e da comunicação, políticas públicas para ead e formação de professores.



O mundo como um sistema de informação complexo e dinâmico, requer novas criações de objetos de aprendizagem, ou mesmo a adequação destes recursos que se tornam uma extensão da Educação. Não há como aplicar a separação da Educação da sociedade neotecnicista, precisamos sim, permitir a utilização da informação tecnológica como vinculação de novos paradigmas educacionais.
No século XX, a humanidade já assistiu a grandes mudanças que alteraram a própria concepção de humanidade. Lévy já afirma que

[...] na época atual, a técnica é uma das dimensões fundamentais onde está em jogo a transformação do mundo humano por ele mesmo. A incidência cada vez mais pregnante das realidades tecnoeconômicas sobre todos os aspectos da vida social, e também os deslocamentos menos visíveis que ocorrem na esfera intelectual obrigando-nos a reconhecer a técnica como um dos mais importantes temas filosóficos e políticos de nosso tempo (1997, p.7).


No século XXI, a informação é praticamente descontrolada, pois o homem ainda não é capaz de filtrar estas informações e transformá-las em conhecimento. Palavras e conceitos como: emancipação, construção, reconstrução, distância e inclusão, tomam novas formas e conceitos que são gerados dia a dia ou até mesmo hora a hora. A globalização econômica sufoca o humanismo ao mesmo tempo em que abre infinitas perspectivas. Hoje tudo se torna indefinido, somente o passado é imutável; o presente é moldável e o futuro junto com o conhecimento é uma grande onda de informações e formações constantes.
A estrutura social atual é complexa, portanto, a Educação que já atravessa uma crise que parece ser infindável só exibe com força total a crise da humanidade que não sabe onde “armazenar” tantas expectativas. H.G. Wells dizia que “a história da humanidade é cada vez mais a disputa de uma corrida entre a educação e a catástrofe”.
Afastando-nos um pouco da dura realidade da humanidade e consequentemente a educação, pensamos sempre em novas construções de práxis pedagógicas e no aprimoramento das mesmas. A EAD tomou força e corpo através da necessidade emergente de adequação das tecnologias aliadas a educação. As TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) oferecem recursos poderosos na criação e ampliação de conhecimentos ministrados em salas de aula presenciais ou virtuais. Afirma Bastos (1997) que a educação no mundo de hoje tende a ser tecnológica, o que, por sua vez, vai exigir o entendimento e a interpretação de tecnologias. Como as tecnologias são complexas e práticas ao mesmo tempo, elas estão a exigir uma nova formação do homem que remete à reflexão e compreensão do meio social em que se circunscreve.
A evolução da EAD já é a própria evidência do ingresso da tecnologia em sua aplicação. No início a Educação a distância era aplicada através de cursos por correspondência, enviados pelos correios. Com o advento da informática, a folha impressa deu lugar à mídia eletrônica e, com a explosão da Internet, a estrutura de ensino se ampliou ganhando o mundo, conquistando universidades e construindo ao redor de si uma plataforma amigável e acessível a todos.
Talvez estejamos realmente visualizando a democracia real, ou mesmo como se refere Lévy e Lemos (2010, p.27) cibercultura e ciberdemocracia, a nova potência da emissão, da conexão, estão fazendo com que possamos pensar de maneira mais colaborativa, plural e aberta. Mas é prudente mencionarmos que embora esse avanço tecnológico torna possível uma comunicação e pensamento coletivo e colaborativo, também trazem inúmeros obstáculos para a geração que foi concebida ainda no século XX, obstáculos estes, que estão ligados diretamente a forma como a educação é trabalhada nas salas de aulas atuais. De um lado temos alunos conectados a todo tipo de informação de maneira fácil e veloz e, de outro, temos professores que ainda conseguem manterem-se resistentes as TIC.
Estamos diante de um elo de separação de interesses, os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem conseguem estar fisicamente em um mesmo ambiente, mas seus pensamentos, aspirações e desejos encontram-se em uma verdadeira desarmonia. É importante destacarmos que os motivos causadores destes conflitos não podem ser colocados sob a responsabilidade de um único grupo, na verdade não podemos apontá-los com exatidão, podemos sim, refletirmos sobre algumas evidências que nos encaminham a pensar em como modificar raízes de pensamentos tão fortemente estruturadas no tradicional que já não cabe mais na contemporaneidade.

Formação de professores na era digital

Podemos iniciar refletindo brevemente sobre a formação inicial dos professores, que foram preparados para a transmissão de conhecimentos, a fim de que façam educação embasada em conteúdos isolados através de uma prática repetitiva, onde o que mais era levado em consideração era a quantidade de reproduções que estes sujeitos poderiam reter. Estas ações fazem com que a escola não seja um lugar de desejo dos educandos. De um lado temos professores ministrando aulas cansativas sem inovações, do outro temos os alunos com os avanços tecnológicos a seu alcance. A tecnologia traz muitas facilidades aos seres humanos, mas exige um novo pensar na educação. Destacamos, conforme concorda Brito que “nesta aldeia global, o professor ainda se considera um ser superior que ensina ignorantes. Isso forma uma consciência bancária – o aluno recebe passivamente os conhecimentos, tornando-se um depósito do professor” (2006, p. 38). Nesta mesma perspectiva Freire destaca que

A educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. Em lugar de comunicar-se, o educador faz comunicados e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção “bancária” da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los. (2005, p.66)


Enquanto as escolas transmitem e reproduzem conhecimentos, os alunos buscam e constroem seus valores através de suas experiências que estão diretamente ligadas aos avanços tecnológicos da informação. Nossa sociedade esta passando por uma grande transformação e a educação não esta preparada para acompanhá-la. Nossos professores são frutos de uma educação tradicional, onde aprendiam por memorização e repetição e é exatamente desta forma que planejam e praticam suas aulas, por isso, é fácil entender que os avanços tecnológicos assustam esta classe e dificultam sua adaptação a este novo fazer pedagógico.
Neste novo contexto, os professores precisam deixar de alimentar este conflito, deixar a resistência à mudança de lado e usar este novo movimento a seu favor, com a finalidade de aproximar-se da realidade dos alunos e construir uma educação eficaz, para isso, necessitam o desejo de transformar-se, de avaliar-se e de reestruturar uma nova prática pedagógica.
O processo ensino-aprendizagem torna-se a cada dia, um sistema colaborativo, ampliando as possibilidades de aplicação e reconstrução de formação de professores e currículos. O aprendizado e a formação dos professores tornam-se um ensinamento ao longo da vida, pois as TIC fazem parte desta concepção e nunca serão definitivas. Trabalhar pela diminuição das distâncias entre a realidade global e o que ocorre em sala de aula (tradicional) já pode ser considerado passado, pois políticas públicas que investem na capacitação e formação de professores, bem como de inclusão de escolas já estão em funcionamento, talvez, o que falta é, sem sombra de dúvida é o acesso a informação.
O portal do MEC, através da SEED , possui o cadastro e consequentemente o acesso as políticas públicas vigentes no país, são elas :
· Banco Internacional de Objetos Educacionais: O Banco Internacional de Objetos Educacionais é um portal para assessorar o professor. No banco, estão disponíveis recursos educacionais gratuitos em diversas mídias e idiomas (áudio, vídeo, animação/simulação, imagem, hipertexto, softwares educacionais) que atendem desde a educação básica até a superior, nas diversas áreas do conhecimento.
· Domínio Público: Com um acervo de mais de 123 mil obras e um registro de 18,4 milhões de visitas, o Portal Domínio Público é a maior biblioteca virtual do Brasil (dados de junho de 2009). Lançado em 2004, o portal oferece acesso de graça a obras literárias, artísticas e científicas (na forma de textos, sons, imagens e vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua divulgação autorizada.
· e-Proinfo (Ambiente Colaborativo de Aprendizagem): é um ambiente virtual colaborativo de aprendizagem que permite a concepção, administração e desenvolvimento de diversos tipos de ações, como cursos a distância, complemento a cursos presenciais, projetos de pesquisa, projetos colaborativos e diversas outras formas de apoio a distância e ao processo ensino-aprendizagem. Portal com apoio a formação de professores com sugestões, links e fóruns.
· e-Tec: Lançado em 2007, o sistema Escola Técnica Aberta do Brasil (e-Tec) visa à oferta de educação profissional e tecnológica a distância e tem o propósito de ampliar e democratizar o acesso a cursos técnicos de nível médio, públicos e gratuitos, em regime de colaboração entre União, estados, Distrito Federal e municípios. Os cursos serão ministrados por instituições públicas. O MEC é responsável pela assistência financeira na elaboração dos cursos. A estados, Distrito Federal e municípios cabe providenciar estrutura, equipamentos, recursos humanos, manutenção das atividades e demais itens necessários para a instituição dos cursos. A meta é estruturar mil pólos e atender 200 mil alunos até 2010.
· Formação de Professores na Educação: A Rede Nacional de Formação Continuada de Professores foi criada em 2004 com o objetivo de contribuir para a melhoria da formação dos professores e alunos. O público-alvo prioritário da rede são: professores de educação básica dos sistemas públicos de educação. Neste ano, após o Edital 2010, novas instituições de ensino superior públicas, federais e estaduais foram integradas a Rede Nacional de Formação de professores, ampliando assim, a oferta de cursos. Estas, articulando-se entre si e com outras IES, produzem materiais de orientação para cursos à distância e semipresenciais, com carga horária de 60 a 220 horas. Assim, elas atuam em rede para atender às necessidades e demandas PAR dos sistemas de ensino. As áreas de formação são: alfabetização e linguagem, educação matemática e científica, ensino de ciências humanas e sociais, artes e educação física.
· Formação pela Escola: O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) quer estimular toda a comunidade escolar a contribuir ainda mais com a qualidade na educação. Por isso, criou o FormAção pela Escola, em parceria com a Secretaria de Educação a Distância (SEED/MEC). O FormAção pela Escola é um programa de formação continuada, na modalidade a distância, que tem como objetivo contribuir para o fortalecimento da atuação das pessoas envolvidas com execução, acompanhamento, avaliação, controle e prestação de contas de programas do FNDE.
· Mídias na Educação: Mídias na Educação é um programa de educação a distância, com estrutura modular, que visa proporcionar formação continuada para o uso pedagógico das diferentes tecnologias da informação e da comunicação – TV e vídeo, informática, rádio e impresso. O público-alvo prioritário é: os professores da educação básica. Há três níveis de certificação, que constituem ciclos de estudo: o básico, de extensão, com 120 horas de duração; o intermediário, de aperfeiçoamento, com 180 horas; e o avançado, de especialização, com 360 horas. O programa é desenvolvido pela Secretaria de Educação a Distância (Seed), em parceria com secretarias de educação e universidades públicas – responsáveis pela produção, oferta e certificação dos módulos e pela seleção e capacitação de tutores. Entre os objetivos do programa estão: destacar as linguagens de comunicação mais adequadas aos processos de ensino e aprendizagem; incorporar programas da Seed (TV Escola, Proinfo, Rádio Escola, Rived), das instituições de ensino superior e das secretarias estaduais e municipais de educação no projeto político-pedagógico da escola e desenvolver estratégias de autoria e de formação do leitor crítico nas diferentes mídias.
· Pró-Licenciatura: O programa oferece formação inicial a distância a professores em exercício nos anos/séries finais do ensino fundamental ou ensino médio dos sistemas públicos de ensino. O Pró-Licenciatura ocorre em parceria com instituições de ensino superior que implementam cursos de licenciatura a distância, com duração igual ou superior à mínima exigida para os cursos presenciais, de forma que o professor-aluno mantenha suas atividades docentes. O objetivo é melhorar a qualidade de ensino na educação básica por meio de formação inicial consistente e contextualizada do professor em sua área de atuação. O programa toma como ponto de partida a ação do professor na escola em que desenvolve seu trabalho, de forma que sua experiência do dia a dia sirva de instrumento de reflexão sobre a prática pedagógica. Para participar, as secretarias estaduais e municipais devem aderir ao programa. O professor interessado precisa estar em exercício há pelo menos um ano, sem habilitação legal exigida para o exercício da função (licenciatura). Ação é gratuita e os professores selecionados pelas instituições de ensino superior para ingresso no curso recebem bolsa de estudos. O programa é desenvolvido no âmbito da Universidade Aberta do Brasil.

Se deixarmos de lado as próprias políticas públicas, ainda temos outro recurso gratuito e de acesso a todos que é o Portal de Educação na Net, acessado pelo endereço http://www.educacaonanet.com.br/professores que oferece gratuitamente um serviço de hospedagem em ambiente Moodle , onde o professor pode fazer um curso rápido e eficiente de tutor e gerenciar o seu próprio ambiente virtual de aprendizagem (AVA).

EAD e AVA (Ambientes Virtuais e Aprendizagem)

Vale sempre refletir que a EAD é um sistema de ensino tecnológico, acima de tudo bi-direcional com tendência a ser centrada no aluno, pois ele tem acesso a tal fonte de ensino. O AVA é uma construção amigável e acessível que visa a interação do aluno numa perspectiva onde o mesmo não se encontra presencial com o professor, portanto, cabe a este mesmo professor desenvolver conteúdos que farão parte de componentes curricular adaptados a este novo método É um processo de constante construção, haja vista que estamos atualmente operando com uma fonte inesgotável de informações. Também diminui significantemente as distâncias tão mencionadas na educação, pois surgem os novos conceitos com e-learning (eletronic learning – aprendizagem eletrônica), que de acordo com Coutinho, define:
O e-learning pode ser entendido como o ensino a distância mediado por computador, ou seja, aquele que pode ocorrer apenas virtualmente através de sistemas informáticos sem o auxílio de meios físicos como a correspondência, vídeos, CD-ROM entre outros. O
e-learning parece apresentar-se, hoje, como uma forma de resposta às necessidades emergentes de uma sociedade caracterizada por elevados níveis de competitividade, em que o "tempo" é um factor crítico no desenvolvimento dos indivíduos e das instituições e a formação permanente uma necessidade premente.(2007 p.617)
A aprendizagem eletrônica nos dias atuais possui um potencial educativo e interativo já na consciência do estado com já vimos nas políticas públicas direcionas a educação pública mencionadas anteriormente. Além do e-learning, contamos também com o modo de aprendizagem b-learning (blended learning – aprendizagem mista), onde a EAD é aplicada entre encontros virtuais mesclado com encontros presencias, ou seja, são aplicadas as duas variações, há uma distribuição de conteúdos. Conteúdos com disponibilidade para serem vinculados on-line e, conteúdos mais específicos, que necessitam da assistência do professor, nesta modalidade podem ser disponibilizados na forma presencial. Outro conceito que ganha força com a EAD é o m-learning (móbile-learning – aprendizagem móvel), que se utiliza de sistemas móveis de comunicação tais como: celulares, PDA’s (mini-computadores de mão), tablepad, etc. Nesta modalidade, o aluno pode fazer download de Podcast’s que são arquivos de audiovisuais e acessá-los no momento ou local que mais lhe aprouver.
Recursos como o Wiki ou os fóruns, estão disponíveis no AVA e são poderosas ferramentas de sistema colaborativo e cooperativo de aprendizagem, aqui encontramos ambientes onde novas formas de ensino-aprendizagem podem ocorrer. Estas formas de aprendizagem não se limitam somente a conteúdos, mas criam e estabelecem uma nova forma de socialização e compartilhamento de opiniões, dificuldades e sucessos.
O mais importante de todas estas ferramentas, além da inclusão e de serem direcionadas a alunos que não possuem um tempo hábil para freqüentar a escola tradicional, é a de se ter oportunidade de criar uma nova geração de alunos que serão orientados a conquistar a sua própria autonomia cognitiva e social, nunca individualista, pois o mundo globalizado de informações e conhecimentos não o permite mais. Resumindo, considera Castells(2208) que as novas tecnologias da informação estão integrando o mundo em redes globais de instrumentalidade. A comunicação mediada por computadores gera uma gama enorme de comunidades virtuais.


Considerações Finais

Como foi discutido durante o texto, as TIC estão tomando conta da sociedade globalizada. A cada dia que passa torna-se mais impossível levarmos nossas rotinas sem precisarmos utilizá-las. Imaginem na escola, o uso das ferramentas tecnológicas se faz praticamente essencial nos fazeres pedagógicos, os professores não podem fazer que não percebem o quanto esses recursos podem melhorar e qualificar sua prática docente, e, ao mesmo tempo, precisam buscar informações e qualificações necessárias que os permitam dominar e manipular essas já referidas ferramentas.
A reflexão que foi realizada deixa transparecer que a formação inicial não dá conta da preparação docente e que é urgente que a formação continuada passe a fazer parte das práticas destes educadores, mas não podemos ser inocentes ao ponto de atribuirmos este problema apenas a classe de professores, temos que também levarmos em consideração os incentivos que estes recebem através das políticas educacionais públicas para darem continuação as suas formações e que condições são lhes oferecidas para tal seguimento escolar.
Para concluirmos nossas reflexões declaramos que os incentivos das políticas públicas existem, basta acessar o portal do MEC que podemos presenciar inúmeros deles, mas para isso é necessário que haja um movimento inicial de mudança, que os docentes valorizem estes incentivos e tomem posse deles, afinal foram desenvolvidos pensando justamente no aprimoramento da educação de nosso país através da capacitação daqueles que são os responsáveis por sua prática, os professores.

Referências Bibliográficas

BRITO, Glaucia da Silva. Educação e novas tecnologias: um re-pensar. Curitiba: Ibpex, 2006.
CASTELLS, Manuel (2000). A sociedade em rede. Vol. 1. São Paulo, Paz e Terra. 11ª Edição
COUTINHO, Clara P. Tecnologia Educativa e Currículo: caminhos que se cruzam ou se bifurcam? - VII COLÓQUIO SOBRE QUESTÕES CURRICULARES - (III Colóquio Luso-Brasileiro) Globalização e (des)igualdades: os desafios curriculares, Universidade do Minho (Braga)–Portugal-9, 10 e 11 de Fevereiro de 2006, disponível online:
COUTINHO, Clara P.; BOTTENTUITT, João Batista Jr., A Educação a distância para a formação ao longo da vida na sociedade do conhecimento - Libro de Actas do Congreso Internacional Galego-Portugués de Psicopedagoxía. A.Coruña/Universidade da Coruña: Revista Galego-Portuguesa de Psicoloxía e Educación. ISSN: 1138-1663 – 2007, disponível online: < http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/7056/1/EAD.pdf>
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 47ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na era da informática. Ed 34. Rio de Janeiro, 1993
LEMOS, André; Lévy, Pierre. O futuro da internet: uma ciberdemocracia. São Paulo: Paulus, 2010
MEC/SEED – Políticas Públicas para EAD. Disponível on-line:

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Trabalho da disciplina de Planejamento, Gestão e Avaliação de Projetos Interdisciplinares na Educação do programa de Mestrado em Educação, turma do 01/2010, do Centro Universitário La Salle sob a orientação dos Professores Dr. Miguel Alfredo Orth e Dr. Evaldo Luis Pauly.

TECNOLOGIA EDUCATIVA: ASSUMINDO A CONTEMPORANEIDADE NA PRÁXIS PEDAGÓGICA

Resumo:

Esse ensaio trata das concepções atuais de realidade de uma sociedade baseada numa cultura global, onde, distâncias físicas, cognitivas e virtuais se diminuem dia a dia, hora a hora. A mutação social é constante, a dinamicidade é, até certo ponto, cruel, pois torna ciente a todos os atores do contexto atual, de que estamos muito longe de uma democracia de direito para todos. Um ponto de partida poderia ser a Escola fundamentada em uma educação baseada num currículo realista e adequado às necessidades de uma humanidade focada numa sociedade em permanente transmutação de conhecimentos e saberes. Um currículo estruturado nas necessidades de uma população carente de recursos sociais, intelectuais e tecnológicos. Precisamos ter a consciência de que a evolução técnica se acelerou deixando para trás a evolução moral e social e, como consequência, surge o desnivelamento entre tecnologia e social, entre direito democrático e práticas democráticas. Um dos protagonistas desta “distância” é o próprio Estado que, frequentemente aplica a prática da descontinuidade de políticas sociais deixando a sociedade refém do assistencialismo dependente, refletindo assim na Educação e consequentemente na sociedade.

Numa concepção diferenciada, proponho a problematização e análise dos estudos do currículo atual e a adaptação do mesmo na escola com forma de restabelecer uma nova educação ambientada no paradigma da globalização e análise da evolução tecnológica e a sua aplicação na sociedade global.

Palavras-chave: tecnologia, educação, tecnologia educativa, currículos, formação de professores


Abstract:

This essay deals the current reality conceptions of a society based on a global culture where physical and cognitive distances shorten every day, and every hour. Social change is frequent, and dynamicity is somewhat tough, because makes aware to every actor of the current context, that we are very far from achieving what can be called a "democracy of rights for everyone". A starting point could be the school, fundamented in an education based on realistic curriculum that fits the needs of the humanity focused on a society in permanent transmutation of knowledge and lore. A curriculum structured on the needs of a population lacking social, intelectual and technological resources. We need to be conscious that the technical evolution grew despite moral and social evolution, hence the abyss between technology and society, between democratic right and democratic practices. One of the leading figures of this abyss is the State itself, which oftenly discontinue social practices, thus leaving the society to the mercy of the dependant welfarism, therefore impacting in Education and consequently in society.

On a different conception, I propose the problematization and the analysis of the studies of the current curriculum and the adaptation of it in the school, as a manner to establish a new education set on the globalization paradigm and on the analysis of the technological evolution and its application on the global society.

Keywords: technology, education, educational technology, curriculum, teacher training


A “ditadura” da tecnologia

Na evolução das tecnologias, a sociedade foi envolvida de forma rápida e não tão eficiente e até certo ponto com uma dose de deslumbramento, pois se criou uma dicotomia nas relações sociais, afetivas e cognitivas. Pensar em uma sociedade que muda tão rápido, com valores diversos e ao mesmo tempo específicos, cria um sentimento de novas adaptações, novas elaborações e associações para uma nova estrutura social como um todo. O problema é: adequar uma rede de conhecimento, saberes e competências a um mundo que se encontra tão “curto” nas distâncias da informação e tão globalizados nas ações.

Emergimos de uma prática taylorista/fordista que acelerou o crescimento capitalista no pós guerra. Esse mesmo crescimento capitalista deu passagem para a democracia e, consequentemente a democracia de direito que, assegura os mesmos direitos a todos os seres da sociedade, pelo menos na teoria. Na prática, estamos muito aquém da solução de todas as diferenças geradas pelo capitalismo.

No século XXI a tecnologia é imperativa na vida humana, ou seja, há muito tempo é uma extensão de nossos dias, de nossas ações e de nossa formação, formando uma sociedade “neotecnicista”.

Se pensarmos na evolução da tecnologia/informática, nos remeteremos ao tempo da II Guerra Mundial, Douglas Engelbart, um operador de radar, porém visionário, não se conformando com computadores tão gigantes e ao mesmo tempo complexos no operar, pensou em uma maneira de criar um dispositivo totalmente interativo e intuitivo – o mouse, para aproximar o homem da máquina, mesmo sendo essa última, sua própria criação. Se avançarmos mais um pouco no tempo, encontraremos Steve Jobs e Steve Wozniak, mágicos visionários das tecnologias, sempre à frente de seu tempo e num mundo paralelo às políticas e seus conflitos, desenvolveram a técnica por excelência: um sistema amigável, que permitisse ao homem uma total interação com a máquina. Com seus objetivos alcançados, a maior parte do desenvolvimento das tecnologias criadas e estruturadas para conflitos políticos chegaram à sociedade, ao mundo e a humanidade. As tecnologias foram responsáveis pelo crescimento do capitalismo e vice-versa, pois se estabeleceu a globalização, onde um planeta inteiro e suas culturas e civilizações são uma só lutando para não serem “devoradas” por um senso comum, mas tomando conhecimento da importância do transitar entre as inúmeras diversidades e identidades que compõem a humanidade.

O que desejo dizer com esse breve e resumido compêndio da história da tecnologia? O homem, a humanidade não assimilou a velocidade da evolução de sua própria espécie. Segue numa corrida para buscar novos desafios e recursos facilitadores de sua própria existência, esquecendo-se de adequá-las aos procedimentos básicos e necessários de sua vida e com acesso garantido a todos por direito. Não há ainda uma política pública realmente eficiente no que diz respeito a inclusão de todos os seres nessa sociedade de conhecimento veloz, pois perde-se identidades em nome de uma cultura global. O acesso ao conhecimento de fato se limita ao básico e, a inclusão gera uma “casta” dos excluídos da inclusão. Contraria a Declaração Internacional de Montreal sobre inclusão, que se refere a todos os âmbitos sociais, econômicos, de conhecimento, acessibilidade e respeito mútuo:

O acesso igualitário a todos os espaços da vida é um pré-requisito para os direitos humanos universais e liberdades fundamentais das pessoas. O esforço rumo a uma sociedade inclusiva para todos é a essência do desenvolvimento social sustentável. A comunidade internacional, sob a liderança das Nações Unidas, reconheceu a necessidade de garantias adicionais de acesso para certos grupos. As declarações intergovernamentais levantaram a voz internacional para juntar, em parceria, governos, trabalhadores e sociedade civil a fim de desenvolverem políticas e práticas inclusivas. O Congresso Internacional "Sociedade Inclusiva" convocado pelo Conselho Canadense de Reabilitação e Trabalho apela aos governos, empregadores e trabalhadores bem como à sociedade civil para que se comprometam com, e desenvolvam, o desenho inclusivo em todos os ambientes, produtos e serviços.

A não gestão por parte do Estado e sociedade possui ainda uma visão territorial que se perde na descentralização de órgãos incomunicáveis, obsoletos e adeptos da descontinuidade. Governar uma nova humanidade requer, acima de tudo, a integração entre muitas identidades que formam um coletivo, necessita de novos paradigmas que pelo menos entrem em frequência com a mutação do conhecimento. Pierre Lévy (1994), se refere:

Como governar em situação de desterritorialização acelerada? A invenção de novos modos de regulação política surge como uma das tarefas que se impõem com urgência à humanidade. Moralmente desejável quando caminha no sentido de um aprofundamento da democracia, essa invenção envolve a saúde pública ao condicionar a resolução dos problemas graves e complexos de nosso tempo.

A falta de estrutura política de governos que ficaram imersos durante tantos anos em conflitos “virtuais” ou não. As corridas dos armamentos tendo como a tecnologia de ponta a seu serviço, me fez abrir os olhos e visualizar um horizonte facilitador, porém com acesso somente a elite. Não posso deixar de afirmar também que a globalização econômica supera a democracia, abandona o humanismo e, leis nacionais ou internacionais nada podem com tal poder da informação, ampliando mais ainda o abismo existente entre as diferenças econômicas e consequentemente sociais.

Não vivemos mais sem a tecnologia. Diversos setores da nossa sociedade, incluindo o Estado, se abastecem da dependência das facilidades e agilidades da tecnologia. Nunca antes o homem foi tão ativo e proativo na construção de seu conhecimento.

Mesmo nas agruras, a coletividade emerge, o acesso a diversas ferramentas gratuitas surge como um novo “polarizador” de cultura cibernética e cooperativa. Se levarmos em conta um "simples" sistema WIKI[1], vamos ter a real noção do que está se transformando a sociedade digital. Um sistema colaborativo que prima pela coletividade é um exemplo nato de que a democracia do conhecimento e por direito está sendo implementada, mesmo que de forma letárgica e inconsciente ampliando ainda mais a dicotomia da informação e do conhecimento.

Coletividade e colaboração! A Wikipedia[2], o mais ilustre exemplo é uma fonte inesgotável de conhecimento dinâmico e em constante mutação e ampliação. Primo (2003) se posiciona:

[...]o sistema Wiki veio permitir não apenas a reunião de dados, mas a própria geração de novos conhecimentos de forma compartilhada entre diferentes sujeitos, a qualquer tempo e de qualquer lugar. Ou seja, não se trata apenas de uma ferramenta de indexação e formatação, mas a criação de um espaço de debate e sintetização de textos. Ou seja, o papel do interagente não é apenas de um bibliotecário, mas verdadeiramente de um autor, no sentido mais estrito da palavra. Nesse sentido, a Wikipédia é mais do que a oferta de informações. É também um convite ao trabalho social de construção do conhecimento.

Nunca antes a história foi construída pela coletividade. A construção da história, transcendeu o próprio conceito de história, o homem acessa e intervém no presente, mudando o futuro e a contemporaneidade de forma rápida e ativa.

Coletividade, palavra que determina uma linha infinita de conhecimentos. Tal como observa Pierre Lévy(1994).

A inteligência coletiva visa menos domínio de si por intermédio das comunidades humanas que a um abandono essencial que diz respeito à idéia de identidade, aos mecanismos de dominação e de desencadeamento dos conflitos, ao desbloqueio de uma comunicação confiscada, a voltar a trocar entre si pensamentos isolados.

O sujeito hoje, tem em mãos a possibilidade de compartilhar seus anseios, sua dúvidas e opiniões através de blogs e/ou sites de relacionamentos. A produção textual nunca foi tão volumosa, mesmo que as vezes, carente de qualidade, mas produtiva, pois cada ser torna-se autor de sua própria biografia, alterando a imagem de si mesmo, brincando com sua auto estima, seus desejos, objetivos, cria novos laços sociais e "edita" as suas concepções de vida. Compartilha, colabora e intervém em produções visuais e audiovisuais, utilizando-se de ferramentas gratuitas para a publicação de si mesmo. Torna-se celebridade de seu contexto.

Construindo um novo paradigma a partir de um modelo dinâmico

A Educação é para mim, a única fonte e estrutura capaz de mudar o que já está tão enraizado se contrapondo a realidade atual. É o ponto de partida que, querendo ou não ainda alcança a todos, em diversos níveis, é claro, mas está presente na vida do homem, com maior ou menor importância, com maior ou menor abrangência.

Educação faz parte do convívio social e parte da humanidade. Estabelecer novos paradigmas na aplicação envolve estabelecer parâmetros do que é realmente essencial para o homem inserido no contexto atual do mundo em que vivemos. Vejo como um dos caminhos a adequação das estruturas curriculares, pois as mudanças são aplicadas a todas as áreas e níveis da educação, precisando com urgência se adaptar a uma realidade em constante movimento e dinamismo. Além da “edição curricular”, uma nova perspectiva de formação de educadores, uma prática pedagógica ambientada ao digital.

Acácia Zeneida Kuenzer, se posiciona sobre o assunto, afirmando que:

A globalização da economia e a reestruturação produtiva se deram a partir da derrubada das fronteiras também no campo da ciência, construindo áreas transdisciplinares em face da problemática do mundo contemporâneo; este mesmo tratamento precisará ser dado aos conteúdos, derrubando-se as clássicas divisões entre as disciplinas, para compor novos arranjos de conteúdos das várias áreas de conhecimento, articulados por eixos temáticos definidos pela práxis social e pelas peculiaridades de cada processo produtivo na formação profissional.

Analisar o impacto das tecnologias na educação é rever e repensar toda uma estrutura curricular aplicada aos métodos de ensino-aprendizagem. Além da análise é necessário, imperativamente ampliar o horizonte de cada educador e, consequenemente do estado que gerencia todo um escopo educacional através de suas legislações e competências não aplicadas a realidade. É muito mais do que importante reconhecer uma transformação cultural das tecnologias no que diz respeito a todo e qualquer processo educacional atual não só no Brasil, mas como no planeta inteiro, pois a humanidade é, mais do que nunca um todo. O reconhecimento desta transformação cultural e social nos remete a outros processos completamente diferenciados dos que ainda são utilizados como metodologias de educação.

Currículos equivalentes a currículos interativos/digitais – transformadores

Assumir o papel das tecnologias na educação é olhar para o ambiente global sem deixarmos de manter as convicções localizadas na realidade da escola, é poder adaptar novas informações e conhecimentos ao conteúdo disponibilizado e, atualmente lutando para ser compartilhado dentro das salas de aula. Adaptar o mais dinamicamente possível as bases contemporâneas do mundo globalizado é, sem sombra de dúvida, reconsiderar toda uma tradição fortemente enraizada no contexto escolar. A busca de novos currículos que se amoldem aos contextos históricos-crítico da humanidade e, ao mesmo tempo satisfaçam a demanda do conhecimento coletivo sempre emergente é uma árdua tarefa. Existe uma crise na identidade social, esta crise se amplia do estado para o educador e reflete no educando que perde o interesse no conteúdo ministrado em sala de aula, pois existe uma revolução científica e tecnológica, na qual ele, o educando tem o acesso, mas não vê ocorrer em sua formação básica.

O estudo de novos currículos, repito, se fará necessário para adequar o contexto do mundo educacional que precisa agregar para si o impacto da tecnologia nos âmbitos sociais, culturais e das relações que adquiriram uma nova perspectiva de “inter-pessoal”. Todas estas características de vida atual interferem diretamente na atitude do indivíduo e brotam com um novo sentido de relação ensino-aprendizagem, muito mais dinâmico, fluido e rápido. Tudo o que envolve a prática de educar é um processo, portanto, o currículo também se desenvolve por meio de um processo de ligação íntima entre a teoria e a prática. De acordo com Libâneo (2004) p. 168:

[...]o currículo define o que ensinar, o para que ensinar, o como ensinar e as formas de avaliação, em estreita colaboração com a didática.

Ou ainda, como se refere Sacristán (1989) p. 22:

O currículo é a ligação entre a cultura e a sociedade exterior à escola e à educação; entre o conhecimento e cultura herdados e a aprendizagem dos alunos; entre a teoria (idéias, suposições e aspirações) e a prática possível, dadas determinadas condições.

Posso ainda me manifestar quanto ao estudo do currículo nos últimos anos, principalmente nas décadas de 60-70, onde, de acordo com Libâneo(2004), existem vários tipos de currículos: formal, real e oculto.

· Currículo formal: é o currículo expresso pelas diretrizes e legislação, ou seja, é o componente oficial de conteúdos relacionados que deverão compor uma disciplina;

· Currículo real: é a execução de um planejamento, o que realmente ocorre em sala de aula, mesmo que hajam mudanças; é o currículo que emerge da teoria para a prática;

· Currículo oculto: é o currículo das vivências e experiências tanto do educador quanto dos educandos, ou seja, é composto por todas as experiências compartilhadas em sala de aula. Sofre transformações constantes e é o que mais recebe influências da cultura local/global;

Mesmo se levarmos em conta a fundamentação acima citada, penso que o currículo sempre ou quase reflete a filosofia e cultura de seu tempo. Me refiro a quase, pois na prática contemporânea a escola está engessada e, a formação de professores, incluindo a continuada mergulha cada vez mais em vícios estabelecidos e enraizados por teorias acadêmicas ultrapassadas e preconceituosas. O que é necessário mudar é o ponto de vista do estado em relação à Educação, investir na pesquisa tecno/científica para dar início a mudança das bases curriculares. Ver a Educação como base para uma sociedade do conhecimento.

Gosto particularmente do termo usado por Clara Pereira Coutinho[3]; Tecnologia Educativa – TE, onde a autora disserta sobre a importância da construção de currículos que se “cruzam” com a Tecnologia Educativa. Se refere ainda como a tecnologia como braço “operacional” da Educação. A análise da história curricular ocidental com a evolução das tecnologias é muito importante que se tome consciência do que é preciso ser estudado. A autora transita sobre caminhos emancipatórios e autônomos onde afirma que o professor é um coautor dos processos curriculares, trabalhando em equipes.

[...] neste novo contexto, o currículo adquire um caráter interdisciplinar conducente à remoção das barreiras disciplinares e constrói-se a partir da práxis, numa interdependência entre todos os atores sociais em que se reconhece, quer aos professores, quer aos alunos.” Coutinho(2006)

Eu ainda penso no currículo aliado a TE como uma nova proposta de recurso pedagógico, não como passageiro, ou mera ferramenta para alcançar os objetivos traçados em um currículo formal, mas sim como objeto de aprendizagem construído em processo mutável de acordo com a realidade contemporânea e instaurado definitivamente na Escola, dentro da sala de aula. Educação é comunicação e, para tal, hoje é necessário o aliar estudado e analisado das tecnologias, o uso de ferramentas simples, corretas e gratuitas já arrefecem superficialmente a necessidade de mudança. Já estabelecem uma nova relação com o saber, trazendo consigo o interesse do educando, pois se trata de uma sociedade do conhecimento sendo construída e emergindo informações para criar novos indivíduos. Por isso mesmo, mais importante do que incorporar pura e simplesmente a mídia e as novas tecnologias nas aulas é fundamental que o educador pense que tipo de cidadão que queremos e qual a formação cultural que a escolha vai resultar. (Coutinho, 2006).

Por meio do estudo e reformulação de um currículo é possível repensar no retomar da influência da Escola nas bases sociais e nas identidades culturais locais e em nível de aldeia global, é possível também diminuir as distâncias da inclusão digital e, acima de tudo, tomar consciência de que a “tecnologia age sobre a informação” (Castells, 2000, p.78) e vice versa.

Todo o caminho de adaptação da Escola às tendências contemporâneas passa obrigatoriamente por dois estágios pontuais: formação e formação continuada de professores e desenvolvimento de currículos adaptados ao contemporâneo com raiz na emancipação e autonomia suficiente para novas construções. Sem formação os professores não estão em condições de desenvolver práticas pedagógicas de qualidade com bases nas tecnologias (Coutinho, 2006).

Considerações Finais

Educação é comunicação em todos os sentidos da relação do conhecimento – bi-lateral, bi-direcional, estabelece novos paradigmas sociais e de comportamento de toda a humanidade. Se, por um lado vejo a família com acesso as tecnologias, crianças na mais tenra idade entrando em contato com o computador, praticamente se criando sobre os padrões e formas de operação da informática e tecnologia, vejo o contraponto dentro de cada sala de aula, onde somente o tradicional é aplicado e, muito pouco. Em escolas privadas, a informática é usada somente como um recurso para pesquisas orientadas também de forma tradicional. Se o paradigma mudou, a base precisa ser transformada e reconstruída, pois somente o tradicional não cabe mais nos dias de hoje. O educador necessita de outras fontes através de sua formação, seja continuada ou inicial, pois será um fator que condicionará um uso pedagógico adequado. Coutinho (2006) se posiciona:

· uma mudança de atitudes no sentido de os diferentes “atores” do processo educativo aprendem a compartilhar espaços comuns como a biblioteca, a midiateca, a sala de informática, ou o centro de recursos;

· o desenvolvimento de praticas caracterizadas pela coordenação, intercâmbio e preparação conjunta(team-teaching) de experiências e projetos pedagógicos inovadores que perseguem a integração curricular pela partilha de espaços e tecnologias;

· o assumir, por parte da escola, na filosofia do seu projeto educativo, a necessidade de introduzir (e potenciar) novos modos de expressão individuais e coletivos;

Proponho uma aproximação da sociedade do conhecimento para as práticas pedagógicas, para o dia a dia da sala de aula. O ambiente escolar precisa, com urgência transitar mais no Digital, na Rede, nas Informações e transformá-las em construção de conhecimento. A Escola, os educadores precisam se confrontar com a realidade de que existe o acesso autônomo do educando ao conhecimento, esse busca suas informações relacionadas sempre ao seu ponto de interesse, aprende e assimila os principais pontos vitais de sua pesquisa. Se a Escola souber canalizar esses novos hábitos, criará um ambiente propício para a construção desse conhecimento, diminuindo a distância do que se aplica na sala de aula e o que realmente acontece no mundo. Ao aproximar o educando do processo pedagógico, isto faz com que o mesmo seja um coautor de seu próprio processo cognitivo. Bases construtivistas? Provavelmente. Pensar que o conhecimento não é absoluto e muito menos definitivo é determinar que o mesmo é moldado, adaptado e estruturado nas bases desta nova práxis pedagógica.

Particularmente, me aproprio de uma frase definitiva de Pierre Lévy quando se refere ao nomadismo desta época, em seu livro A Inteligência Coletiva (1994). “Caso se tratasse apenas de passar de uma cultura a outra, ainda teríamos exemplos, referencias históricas. Mas passamos de uma humanidade a outra; outra humanidade que não apenas permanece obscura, indeterminada, mas que até mesmo nos recusamos a interrogar, que ainda não aceitamos examinar.”


Bibliografia:

CASTELLS, Manuel (2000). A sociedade em rede. Vol. 1. São Paulo, Paz e Terra. 11ª Edição

COUTINHO, Clara P. Tecnologia Educativa e Currículo: caminhos que se cruzam ou se bifurcam? - VII COLÓQUIO SOBRE QUESTÕES CURRICULARES - (III Colóquio Luso-Brasileiro) Globalização e (des)igualdades: os desafios curriculares, Universidade do Minho (Braga) – Portugal - 9, 10 e 11 de Fevereiro de 2006, disponível online: <http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/6468/1/Texto%20Col%20QC%202006.pdf>

DECLARAÇÃO INTERNACIONAL DE MONTREAL SOBRE INCLUSÃO, aprovada em 5 de junho de 2001 pelo Congresso Internacional " Sociedade Inclusiva" , realizado em Montreal, Quebec, Canadá, disponível online: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dec_inclu.pdf>

GIMENO SACRISTÁN, J. Currículo e diversidade cultural. In: SILVA, Tomaz T.; MOREIRA, Antônio F. (Orgs.) Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis: Vozes, 1995

KUENZER, Acácia Zeneida, As Mudanças no Mundo do Trabalho e a Educação: Novos Desafios para a Gestão. Gestão Democrática da Educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo : Cortez, 2006

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na era da informática. Ed 34. Rio de Janeiro, 1993

LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2000

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5ed. Revista Ampliada – Goiânia: Editora Alternativa, 2004.

PRIMO, A. F. T. e RECUERO, Raquel., Hipertexto cooperativo: uma análise da escrita coletiva a partir dos Blogs e da Wikipédia. Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 22 • dezembro 2003 • quadrimestral



[1] O termo Wiki foi criado por Ward Cunningham - termo original:WikiWikiWeb, criador do sistema lançado em 1995, e significa “rápido” em haviano (wiki wiki). Cunningham viria, mais tarde, abrir um Wiki público (http://www.c2.com/cgi/wiki) para a discussão de questões de engenharia e metodologia de software.

[2] Janeiro de 2001, Larry Sanger e Jimmy Wales lançam a Wikipédia (http://www.wikipedia.org), que se tornaria o maior projeto Wiki até hoje.

[3] Professora Dra. Auxiliar do Departamento de Currículo e Tecnologia Educativa

Instituto de Educação e Psicologia

Universidade do Minho - Portugal



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Trabalho da disciplina de Planejamento, Educação, Cultura e Ação Pública, do programa de Mestrado em Educação, turma do 01/2010, do Centro Universitário La Salle sob a orientação dos Professores: Prof. Dr. Luiz Gonzaga Silva Adolfo e Profª. Drª. Sandra Vidal Nogueira