Resumo:
Esse ensaio trata das concepções atuais de realidade de uma sociedade baseada numa cultura global, onde, distâncias físicas, cognitivas e virtuais se diminuem dia a dia, hora a hora. A mutação social é constante, a dinamicidade é, até certo ponto, cruel, pois torna ciente a todos os atores do contexto atual, de que estamos muito longe de uma democracia de direito para todos. Um ponto de partida poderia ser a Escola fundamentada em uma educação baseada num currículo realista e adequado às necessidades de uma humanidade focada numa sociedade em permanente transmutação de conhecimentos e saberes. Um currículo estruturado nas necessidades de uma população carente de recursos sociais, intelectuais e tecnológicos. Precisamos ter a consciência de que a evolução técnica se acelerou deixando para trás a evolução moral e social e, como consequência, surge o desnivelamento entre tecnologia e social, entre direito democrático e práticas democráticas. Um dos protagonistas desta “distância” é o próprio Estado que, frequentemente aplica a prática da descontinuidade de políticas sociais deixando a sociedade refém do assistencialismo dependente, refletindo assim na Educação e consequentemente na sociedade.
Numa concepção diferenciada, proponho a problematização e análise dos estudos do currículo atual e a adaptação do mesmo na escola com forma de restabelecer uma nova educação ambientada no paradigma da globalização e análise da evolução tecnológica e a sua aplicação na sociedade global.
A “Ditadura” da Tecnologia
Na evolução das tecnologias, a sociedade foi envolvida de forma rápida e não tão eficiente e até certo ponto com uma dose de deslumbramento, pois se criou uma dicotomia nas relações sociais, afetivas e cognitivas. Pensar em uma sociedade que muda tão rápido, com valores diversos e ao mesmo tempo específicos, cria um sentimento de novas adaptações, novas elaborações e associações para uma nova estrutura social como um todo. O problema é: adequar uma rede de conhecimento, saberes e competências a um mundo que se encontra tão “curto” nas distâncias da informação e tão globalizados nas ações.
Emergimos de uma prática taylorista/fordista que acelerou o crescimento capitalista no pós guerra. Esse mesmo crescimento capitalista deu passagem para a democracia e, consequentemente a democracia de direito que, assegura os mesmos direitos a todos os seres da sociedade, pelo menos na teoria. Na prática, estamos muito aquém da solução de todas as diferenças geradas pelo capitalismo.
No século XXI a tecnologia é imperativa na vida humana, ou seja, há muito tempo é uma extensão de nossos dias, de nossas ações e de nossa formação, formando uma sociedade “neo-tecnicista”.
Se pensarmos na evolução da tecnologia/informática, nos remeteremos ao tempo da II Guerra Mundial, Douglas Engelbart, um operador de radar, porém visionário, não se conformando com computadores tão gigantes e ao mesmo tempo complexos no operar, pensou em uma maneira de criar um dispositivo (o mouse) totalmente interativo e intuitivo, para aproximar o homem da máquina, mesmo sendo essa ultima, sua própria criação. Se avançarmos mais um pouco no tempo, encontraremos Steve Jobs e Steve Wozniak, mágicos visionários das tecnologias, sempre à frente de seu tempo e num mundo paralelo às políticas e seus conflitos, desenvolveram a técnica por excelência: um sistema amigável, que permitisse ao homem uma total interação com a máquina. Com seus objetivos alcançados, a maior parte do desenvolvimento das tecnologias criadas e estruturadas para conflitos políticos chegaram à sociedade, ao mundo e a humanidade. As tecnologias foram responsáveis pelo crescimento do capitalismo e vice-versa, pois se estabeleceu a globalização, onde um planeta inteiro e suas culturas e civilizações são uma só lutando para não serem “devoradas” por um senso comum, e tomando conhecimento da importância do transitar entre as inúmeras diversidades e identidades que compõem a humanidade..
O que desejo dizer com esse breve e resumido compêndio da história da tecnologia? O homem, a humanidade não assimilou a velocidade da evolução de sua própria espécie. Segue numa corrida para buscar novos desafios e recursos facilitadores de sua própria existência, esquecendo-se de adequá-las aos procedimentos básicos e necessários de sua vida e com acesso garantido a todos por direito. Não há ainda uma política pública realmente eficiente no que diz respeito a inclusão de todos os seres nessa sociedade de conhecimento veloz, pois perde-se identidades em nome de uma cultura global. O acesso ao conhecimento de fato se limita ao básico e, a inclusão gera uma “casta” dos excluídos da inclusão. A não gestão por parte do Estado e sociedade possui ainda uma visão territorial que se perde na descentralização de órgãos incomunicáveis, obsoletos e adeptos da descontinuidade.
Governar uma nova humanidade requer, acima de tudo, a integração entre muitas identidades que formam um coletivo, necessita de novos paradigmas que pelo menos entrem em frequência com a mutação do conhecimento. Pierre Lévy (1994), se refere:
“Como governar em situação de desterritorialização acelerada? A invenção de novos modos de regulação política surge como uma das tarefas que se impõem com urgência à humanidade. Moralmente desejável quando caminha no sentido de um aprofundamento da democracia, essa invenção envolve a saúde pública ao condicionar a resolução dos problemas graves e complexos de nosso tempo.”
A falta de estrutura política de governos que ficaram imersos durante tantos anos em conflitos “virtuais” ou não. As corridas dos armamentos tendo como a tecnologia de ponta a seu serviço, me fez abrir os olhos e visualizar um horizonte facilitador, porém com acesso somente a elite.
Construindo um Novo Paradigma a Partir de um Modelo Dinâmico
A Educação é para mim, a única fonte e estrutura capaz de mudar o que já está tão enraizado se contrapondo a realidade atual. É o ponto de partida que, querendo ou não ainda alcança a todos, em diversos níveis, é claro, mas está presente na vida do homem, com maior ou menor importância, com maior ou menor abrangência.
Educação faz parte do convívio social e parte da humanidade. Estabelecer novos paradigmas na aplicação envolve estabelecer parâmetros do que é realmente essencial para o homem inserido no contexto atual do mundo em que vivemos. Vejo como um dos caminhos a adequação das estruturas curriculares, pois as mudanças são aplicadas a todas as áreas e níveis da educação, precisando com urgência se adaptar a uma realidade em constante movimento e dinamismo. Além da “edição curricular”, uma nova perspectiva de formação de educadores, uma prática pedagógica ambientada ao digital.
Acácia Zeneida Kuenzer, , se posiciona sobre o assunto, afirmando que:
“ A globalização da economia e a reestruturação produtiva se deram a partir da derrubada das fronteiras também no campo da ciência, construindo áreas transdisciplinares em face da problemática do mundo contemporâneo; este mesmo tratamento precisará ser dado aos conteúdos, derrubando-se as clássicas divisões entre as disciplinas, para compor novos arranjos de conteúdos das várias áreas de conhecimento, articulados por eixos temáticos definidos pela práxis social e pelas peculiaridades de cada processo produtivo na formação profissional.”
Se, por um lado vejo a família com acesso as tecnologias, crianças na mais tenra idade entrando em contato com o computador, praticamente se criando sobre os padrões e formas de operação da informática, vejo o contraponto dentro de cada sala de aula, onde somente o tradicional é aplicado e, muito pouco. Em escolas privadas, a informática é usada somente como um recurso para pesquisas orientadas também de forma tradicional. Se o paradigma mudou, a base precisa ser transformada e reconstruída, pois somente o tradicional não cabe mais nos dias de hoje.
Proponho uma aproximação da sociedade do conhecimento para as práticas pedagógicas, para o dia a dia da sala de aula. O ambiente escolar precisa, com urgência transitar mais no Digital, na Rede, nas Informações e transformá-las em construção de conhecimento. A Escola, os educadores precisam se confrontar com a realidade de que existe o acesso autônomo do educando ao conhecimento, esse busca suas informações relacionadas sempre ao seu ponto de interesse, aprende e assimila os principais pontos vitais de sua pesquisa. Se a Escola souber canalizar esses novos hábitos, criará um ambiente propício para a construção desse conhecimento, diminuindo a distância do que se aplica na sala de aula e o que realmente acontece no mundo. Ao aproximar o educando do processo pedagógico, isto faz com que o mesmo seja um coautor de seu próprio processo cognitivo.
É obvio que a discussão não finda nessas poucas idéias, ainda preciso descobrir qual o papel fundamental e eficaz do Estado, da sociedade e acima de tudo: Como e qual será a análise, intervenção e participação da Escola nessa revolução de saberes e conhecimento. Particularmente, me aproprio de uma frase definitiva de Pierre Lévy quando se refere ao nomadismo desta época, em seu livro A Inteligência Coletiva (1994). “Caso se tratasse apenas de passar de uma cultura a outra, ainda teríamos exemplos, referencias históricas. Mas passamos de uma humanidade a outra; outra humanidade que não apenas permanece obscura, indeterminada, mas que até mesmo nos recusamos a interrogar, que ainda não aceitamos examinar.”
Bibliografia:
KUENZER, Acácia Zeneida, As Mudanças no Mundo do Trabalho e a Educação: Novos Desafios para a Gestão. Gestão Democrática da Educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo : Cortez, 2006
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. Ed 34. Rio de Janeiro, 1993
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2000